22 de abril de 2009

David Thornburg: Escolas devem ensinar a programar


Ele acha absurdo que professores não usem a Wikipedia e acredita que as crianças deviam aprender a programar. É o que pensa o americano David Thornburg, um dos maiores especialistas mundiais em tecnologia na educação. Thornburg ministrou uma palestra na Livraria Cultura na última sexta e conversou com o repórter Jacques Waller sobre o impacto da web 2.0 na educação e os desafios da informatização do ensino no Brasil.

JC – A web 2.0 já chegou às salas de aula?
THORNBURG – Está começando agora. Há uma grande resistência por parte dos professores, já que eles perdem muito do controle quando usam ferramentas tecnológicas e redes sociais. Acho incrível, por exemplo, que os professores ainda não permitam que seus alunos utilizem a Wikipedia para pesquisar. Além disso, os alunos deviam ser incentivados a ter seus próprios blogs e wikis. Mas acontece que os professores acham que fazer com que os estudantes troquem esse conhecimento pela rede de forma independente é dar poder demais a eles.

JC – O Brasil tem dificuldade de unir tecnologia e educação, devido à falta de recursos e analfabetismo digital. Ao mesmo tempo, o brasileiro adere a ferramentas web e tecnologias muito rapidamente. O que é preciso para conciliar os dois fatores?
THORNBURG – Algumas coisas. Acredito que o governo brasileiro tem prestado muita atenção nesse setor e acredito que haja uma grande oportunidade de avanço. No entanto, o desafio não é tecnológico, mas como fazer para que os professores transformem ferramentas tecnológicas em novas práticas pedagógicas. O governo tem que garantir que o dinheiro não seja destinado apenas a equipamentos, mas para criar novas formas de aprendizado. Afinal, não é passando do quadro negro para o Powerpoint que haverá mudança no ensino. Também é fundamental trabalhar com professores que queiram gerar essa mudança. E isso é um problema mundial.

JC – A maior parte do acesso à web no Brasil é feito através de lan houses. Elas podem ser usadas na educação?
THORNBURG – Se os professores forem corajosos, sim. Podem ser usadas numa tarefa de casa online, por exemplo. O problema é o barulho, que atrapalha a concentração. Mas centros de acesso público mais quietos e limpos, sejam do governo, sejam privados e baratos, podem servir. Eu gosto muito dessa ideia.

JC – O que acha de videogames na educação?
THORNBURG – Há jogos de videogames que têm um ótimo conteúdo educativo. O problema é que às vezes eles não se conectam diretamente ao conteúdo. É como uma conexão falsa. Mas há jogos que são incríveis. Adoro Tetris, por exemplo, que é um jogo de geometria pura, com muita matemática envolvida. Entre os mais sofisticados, gosto muito de Civilization. Nele, o jovem não só aprende sobre Roma, como constrói Roma! É possível aprender sobre história, conceitos de administração de recursos naturais. Quer dizer, se eu deixo de criar uma plantação e minha civilização se desfaz, é porque alguma coisa errada aconteceu. Em geral, acho que as ciências sociais estão muito bem nos jogos. Não posso dizer o mesmo das ciências exatas.

JC – Você acha que as crianças deviam ter programação como uma matéria curricular?
THORNBURG – Acho sim! Toda criança devia aprender a programar. É possível usar linguagens de programação muito simples, que são basicamente como montar alguns blocos. Nós ensinamos as crianças a ler, por exemplo, e depois esperamos que elas leiam por elas mesmas. Algumas se tornam grandes leitoras, outras lêem apenas o jornal. O mesmo deveria ser com linguagem de programação. Deveríamos dar noções e depois ver se elas se interessam ou não. Mas isso só pode acontecer se elas tiverem acesso a essas ferramentas e à internet.

Publicado em 22.04.2009
Jornal do Commercio - Recife

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