28 de setembro de 2009

"Com internet, aluno pode fazer trabalho de relevância social"

Data: 28/09/2009
Veículo: O ESTADO DE S. PAULO - SP
Editoria: VIDA

Coordenadora de estudo sobre uso de tecnologia na escola diz que rede pode estimular ética e cidadania entre os estudantes


Simone Iwasso

Márcia Padilha: especialista em tecnologias de comunicação da Organização dos Estados-Iberoamericanos

Todo mundo fala da tecnologia na escola, governos e pais investem em computadores, crianças e jovens passam horas em jogos virtuais, mas ainda pouco se debate sobre os usos pedagógicos desses recursos. Em um momento em que toda a sociedade se reestrutura para atender as demandas atuais, a escola não pode perder a chance de usar a internet em prol da transformação, estimulando um aluno ativo e capaz de produzir conteúdos. A análise é de Márcia Padilha, especialista em tecnologias de comunicação da Organização dos Estados Ibero-Americanos para a Educação, a Ciência e a Cultura (OEI). Ela coordena estudo que analisará como redes escolares estão usando a tecnologia no ensino.

O que é um bom uso educacional da tecnologia?

A tecnologia está atrelada à concepção de educação que se adota em cada escola. A tecnologia não faz sentido sem a visão pedagógica. Ela não é boa nem ruim por si só, depende do contexto em que está inserida. O complexo é que a tecnologia é ferramenta e, ao mesmo tempo, conteúdo. Nesse ponto, vale a máxima de McLuhan (Herbert Marshall McLuhan, educador canadense) de que o meio é a mensagem. Essa complexidade da tecnologia torna sua inserção na escola complexa. É preciso entender que ela não é uma ferramenta didática, mas sim de pensamento.

Como essa ferramenta de pensamento pode ser usada no cotidiano escolar?

Você pode usar a tecnologia para ensinar melhor um conteúdo de física, por exemplo. Você mostra no computador uma simulação da lei da gravidade, fazendo com que os alunos visualizem melhor as teorias. Mas ela pode ir muito além, realmente fazendo algo inovador. Isso ocorre quando a educação incorpora a aceleração do tempo, do espaço, a colaboração e a troca que a internet oferece. Por exemplo, o aluno pode colocar em uma plataforma virtual todos os processos pelos quais ele passou para desenvolver um trabalho, todas as versões do texto até o resultado final, junto com os links dos sites que pesquisou. Aí, os colegas podem comentar e dar sugestões. Isso muda totalmente as características do trabalho. Não é mais organizar um grupo de quatro alunos que se encontram e entregam um trabalho fechado.

São usos como esses que a pesquisa vai procurar identificar?

A pesquisa que vamos desenvolver faz parte de uma série de iniciativas da região ibero-americana para desenvolver avaliações e indicadores sobre o uso da tecnologia na educação. Vivemos um momento em que governos estão investindo em políticas de tecnologias da comunicação nas escolas e é preciso criar instrumentos para analisar e garantir que isso aconteça com qualidade. Hoje, temos disponíveis indicadores macro sobre a tecnologia nas escolas, como número de computadores, de alunos com acesso à internet, enfim, dados quantitativos. Agora, queremos analisar se a tecnologia está integrada nas escolas e qual seu impacto na aprendizagem. Queremos saber como a escola se organiza com a tecnologia, como funcionam as salas de informática, como ela está inserida no projeto político pedagógico da escola.Temos variáveis importantes, como disponibilidade e manutenção dos equipamentos, organização do tempo e do espaço nas escolas e apoio aos professores para desenvolvimento de projetos.

A escola sabe usar a internet?

Todo mundo está se reestruturando e as escolas precisam mudar. A forma de organização e funcionamento da escola foi pensada para o século 19 e parte do século 20. Há uma cultura escolar rígida e inflexível que leva o aluno a uma postura passiva. Precisamos estimular uma atitude mais autoral, como, por exemplo, uma escola que coloque como meta para o ensino médio escrever verbetes na Wikipedia. Verbetes pesquisados, checados, estudados sobre personalidades da história brasileira. O aluno não faz um trabalho sozinho para ser guardado na gaveta. Ele pode fazer um trabalho com relevância social, que será lido e compartilhado com todo mundo. Com isso, você estimula ética, cidadania, responsabilidade social e mostra que o estudante pode interferir no mundo. Ao mesmo tempo, transforma a escola em algo que tem mais a ver com o mundo dele. A internet possibilita um trabalho colaborativo e libertário, mas a minoria dos usuários sabe manipular esses recursos. A maioria só usa parte disso.

Fonte: http://www.linearclipping.com.br/cnte/detalhe_noticia.asp?cd_sistema=93&codnot=887633

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