POR VAGNER DE ALENCAR
O uso dos dispositivos móveis é apontado por especialistas
como uma modalidade de ensino-aprendizagem que aproveita, de forma mais intensa
e integrada, o ensino tanto dentro quanto fora da sala de aula. Conhecido
também como mobile learning, o uso dessas ferramentas ainda é visto com certa
desconfiança por muitos educadores e gestores. No entanto, alguns estudiosos, à
contramão dessa perspectiva, estão se mobilizando para comprovar a eficácia dos
dispositivos móveis na educação. “Existem inúmeras escolas em que o aluno não
pode entrar com o celular. Precisamos romper essa barreira, de que aparelho é
um inimigo”, afirma Antônio Carlos Xavier, pesquisador-chefe de Nehte (Núcleo
de Estudos de Hipertexto e Tecnologia Educacional), da UFPE (Universidade
Federal de Pernambuco).
crédito Victor Tongdee
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Para ampliar a discussão sobre o tema, Xavier, que também é
titular em linguística na UFPE, está coordenando o 5º Simpósio Hipertexto eTecnologias na Educação, que acontece em novembro em Recife. O congresso, que é
pago e está com inscrições abertas, pretende discutir a integração do celular e
tablets às práticas pedagógicas, com a proposta de sensibilizar os educadores
para o uso cada vez mais frequente dos aparelhos móveis. “Vamos reunir
experiências de projetos executados com sucesso por meio da modalidade dessa
ensino. Não é fácil convencer os professores e gestores, mas lentamente vamos
fazendo esse processo”, assegura.
No Brasil, iniciativas, ainda embrionárias, estão mostrando
que o uso concreto e produtivo desses dispositivos está contribuindo para
engajar os alunos no aprendizado. “A partir dos dispositivos móveis, os
estudantes podem gravar, escutar e reescutar o que produziram. Podem receber
conteúdos enviados diretamente pelos professores, até receber as tarefas e
treinar idiomas por meio do envio de torpedos aos amigos. A mobilidade é o
principal trunfo desses aparelhos, que podem ser acessados a todo momento e em
qualquer parte”, afirma.
Há dois principais desafios quanto à adoção das mídias móveis em sala de aula: a capacitação tecnológica dos professores e a descentralização do protagonismo docente
Segundo Xavier, o uso dos dispositivos surgiu para dar conta
da educação em situações extraordinárias que impediam os estudantes de frequentarem
a escola – como em guerras, catástrofes e conflitos armados. Hoje, no entanto,
eles vêm ajudando, muito mais além de uma modalidade de ensino alternativa e
complementar ao ensino presencial. Para ajudar educadores interessados em
adotar os dispositivos, a Unesco apresentou, em fevereiro passado, durante a
Mobile Learning Week, um guia com 10 dicas e 13 motivos para usar celular naaula.
Xavier, porém, aponta dois dos principais desafios à adoção
das mídias móveis em sala de aula: a capacitação tecnológica dos professores e
a descentralização do protagonismo docente. A formação, afirma, é necessária
para que o educador consiga desenvolver conteúdos específicos para a utilização
efetiva desses aparelhos – e não deve ficar apenas à mercê das secretarias de
Educação e governo. “Quando a gente quer mudar, a gente vai atrás. Se o
professor ficar esperando iniciativas do governo, nada vai acontecer”, afirma.
“Fazer aulas tecnológicas é algo muito mais trabalhoso do que por um pincel no
bolso, esboçar um esquema no quadro branco e falar, falar, falar… O professor
precisa entender a tecnologia lhe dará vantagens”, completa.
Para Xavier, outro desafio ao professor é encarar um novo
modelo de educação que se apresenta, o de tornar-se mais facilitador de conteúdos
do que protagonismo hegemônico em sala de aula. “O educador precisa
compartilhar com seus alunos. Seu papel
agora é muito mais de um facilitador de conexões do que um fornecedor de
informações. Ele não pode competir com o Google”, diz ele, que completa: “Vamos
nos capacitando, os alunos também. Vamos conseguindo perceber que para além do
entretenimento. É uma questão de convencer que ferramentas conspiraram a favor
da educação”, afirma.
Atualmente, estão nas mãos dos brasileiros 264,5 milhões de
celulares, segundo dados divulgados em abril pela Anatel (Agência Nacional de
Telecomunicações). De acordo com Xavier,
esses aparelhos, que são manuseados facilmente pelos jovens, sobretudo para
entretenimento, devem ser mais bem aproveitados pelos professores para fins
pedagógicos – especialmente para o complemento e ampliação do aprendizado.
Prêmio Artes Digitais e Aplicativos Educacionais
Os educadores interessados podem participar, até 30 agosto,
da segunda edição do Prêmio Artes Digitais e Aplicativos Educacionais (Prêmio
Hipertexto2013). O concurso pretende incentivar a produção de apps
educacionais, além de estimular a exposição de obras educativas produzidas
digitalmente. O prêmio é dividido em duas categorias: arte digital e
aplicativos educacionais. Os participantes podem concorrer em diferentes áreas:
literária, plástica, musical, fotográfica e cinematográfica até aplicativos
digitais.
Serão selecionados 10 trabalhos que farão parte de uma
exposição no Centro de Convenções da UFPE, além de ingressos para o congresso.
Os dois primeiros colocados receberão prêmios em dinheiro e também hospedagem
para participar do simpósio. As inscrições custam R$ 50.
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